O que podemos fazer sobre a crescente ameaça nuclear?

Por Rodney Richards.

A história conhecida da humanidade abrange cerca de cinco a seis mil anos, e a nossa pré-história abrange mais de três milhões de anos. Estivemos em guerra durante a maior parte desse tempo. Será que, agora, podemos parar?

Os períodos passados de paz, infelizmente, serviram apenas como anomalias relativamente breves entre períodos prolongados de guerra, conquista e escravidão. Normalmente, a paz tem sido episódica e regional, por vezes apenas numa aldeia ou cidade, ou numa pequena região de terra. Enquanto isso, os países invadem e defendem-se quase constantemente, pelo menos em algum lugar do mundo.

Hoje, uma guerra destrutiva entre a Rússia e a Ucrânia faz tremer o mundo. Afinal, a Rússia é uma potência nuclear.

Existe uma força oculta, destrutiva e letal

Bahá’u’lláh, o profeta fundador da Fé Bahá’í, escreveu estas palavras pouco antes de falecer, em 1892:


Coisas estranhas e espantosas existem na terra, mas estão ocultas da mente e da compreensão dos homens. Essas coisas são capazes de mudar toda a atmosfera da terra e sua contaminação mostrar-se-ia letal. (Kalimát-i-Firdawsíyyih, “Palavras do Paraíso”)

Com o surgimento das armas nucleares, mais de meio século depois, e com o primeiro uso de bombas atómicas em Agosto de 1945, começou a corrida para desenvolver cada vez mais desses terríveis aparelhos apocalípticos. Hoje, nove países (que se saiba!) possuem essas armas de destruição em massa, e vários outros desejam tê-las.

Destruição Mútua Garantida

Mas desde 1945, nenhuma arma nuclear foi usada na guerra. Em vez disso, confiamos numa política de dissuasão: o chamado “Destruição Mútua Garantida” (em inglês é referido como “MAD” – “Mutual Assured Destruction”). Esta política descreve adequadamente o absurdo e a loucura da criação de armas que podem contaminar letalmente e destruir a raça humana. MAD (que em inglês também significa “louco”) diz-nos que não importa quem comece uma guerra nuclear, todos sofrerão as consequências. No entanto, MAD é apenas um obstáculo psicológico, com pouca ou nenhuma influência sobre os caprichos de líderes desequilibrados ou sedentos de poder, indiferentes às consequências.

Hoje, existem mais de 13.000 ogivas nucleares, em terra, em submarinos nucleares nos oceanos e talvez até no espaço. Neste momento, a Coreia do Norte está a testar os seus sistemas de lançamento de mísseis para armas nucleares.

Líderes políticos e militares e muitos outros acreditam que ter armas nucleares como um temível meio de retaliação constitui uma protecção contra agressões armadas. Mas será mesmo assim? Ou deveria o medo da utilização dessas armas – hoje mil vezes mais poderosas do que as bombas usadas para destruir duas cidades japonesas em 1945 – fazer com que todos nós tenhamos pavor dessa tão terrível aniquilação? E se temos medo, porque não abolimos essas armas?

Em 1936, Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá’í, escreveu:


Os acontecimentos impetuosos e violentos que, nos últimos anos, levaram quase ao ponto de colapso total da estrutura política e económica da sociedade são muito numerosos e complexos… para se chegar a uma avaliação adequada do seu carácter. Nem essas tribulações, por muito dolorosas que tenham sido, parecem ter atingido o seu clímax e exercido toda a força do seu poder destruidor. O mundo inteiro, independentemente da perspectiva e forma como o examinamos, oferece-nos o espetáculo triste e lamentável de um vasto organismo, enfraquecido e moribundo, que está a ser dilacerado politicamente e estrangulado economicamente por forças que deixou de controlar ou compreender.

Três anos mais tarde, os exércitos de Adolfo Hitler invadiram a pacífica Polónia, iniciando uma batalha mundial contra ditaduras expansionistas. Foram cometidas atrocidades com novas máquinas de matar. A própria sobrevivência de todos os judeus, e outros grupos sociais, foi comprometida. Hoje, divisões políticas, propaganda e agressão, combinadas com um poder de fogo incalculável, ameaçam toda a vida pacífica neste planeta. A paz na maioria dos lugares pode ser a ausência de guerra total, mas a ameaça da guerra paira sobre cada cabeça humana.

Como podemos fazer isto parar?

Individualmente, se o crime não compensa, se formos multados ou punidos por mau comportamento, geralmente paramos. Politicamente, pode significar obter ou perder votos para uma determinada ideologia. Para os negócios, o balanço de contas costuma ditar comportamentos e afectação de recursos. O governo tem o trabalho mais difícil, fornecendo serviços sem receita directa porque uma parte da população precisa deles e não pode pagá-los. É o caso da educação que afirmamos universalmente como uma responsabilidade do estado, independentemente do rendimento individual. Os impostos pagam serviços que não geram lucros em dinheiro, mas são necessários para o bem-estar da nação.

Tudo isso mostra que, enquanto seres humanos, trabalhamos principalmente numa base na recompensa/punição, tal como Bahá’u’lláh escreveu: “Aquilo que educa o mundo é a Justiça, pois ela apoia-se em dois pilares, recompensa e punição. Esses dois pilares são as fontes de vida para o mundo.”

Esta formulação moral essencial está presente em toda a estrutura humana. Todas as tomadas de decisão racionais avaliam os prós e os contras, não apenas de forma prática, mas também moral. Então, como recompensamos a não proliferação e dissuadimos novas aquisições? Obviamente, o brutal poder destrutivo das armas nucleares não impede que certos líderes confiem nelas como ameaças ou na sua possível utilização, como vimos recentemente. Devemos impedir a sua utilização antes que seja tarde demais, e a destruição mútua garantida se torne uma realidade. Esse tipo de desarmamento poderia acontecer se encontrássemos maneiras de decretar uma proibição global sobre a posse e o desenvolvimento de armas nucleares.

Mas hoje não existe nenhuma instituição ou grupo de líderes que tenha qualquer influência real sobre as nove nações que possuem armas nucleares. A doutrina da soberania nacional é um obstáculo – não apenas ao desarmamento, mas também à sobrevivência da nossa espécie. Isso significa que, para sobreviver, devemos criar um modelo, e desenvolver uma mudança substancial na actual estrutura governação mundial.


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Texto original: What Can We Do About the Growing Nuclear Threat? (www.bahaiteachings.org)

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Rodney Richards é escritor técnico de profissão e trabalhou durante 39 anos para o Governo Estadual de New Jersey. Reformou-se em 2009 e dedicou-se à escrita (prosa e poesia),tendo publicado o seu primeiro livro de memórias Episodes: A poetic memoir. É casado, orgulha-se dos seus filhos adultos, e permanece um elemento activo na sua comunidade.


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