Povo de Bahá: Testemunhos da Revelação

Por Peter C. Lyon.

 

Aceitei a Fé Bahá’í com vinte e muitos anos, após uma busca espiritual e intelectual de nove anos. Para mim, um dos aspectos mais atraentes desta religião era a sua relativa novidade.

Na primavera de 1863, Bahá’u’lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá’í, fez a Sua declaração em Bagdade como o prometido de todas as religiões do mundo, enviado para inaugurar uma era de unidade humana.

Algumas semanas depois, em 22 de Maio daquele mesmo ano, nas trincheiras de um mundo, distante perto de Vicksburg, no Mississippi (EUA), quatro do meus tios-avós, soldados da 11º Regimento de Infantaria do Wisconsin, colocaram as suas vidas em risco para erradicar a escravatura e preservar a unidade do país. Aos 90 anos, o mais novo desses tios escreveu ao meu avô uma carta descrevendo as experiências do regimento na Guerra Civil. Continua a ser uma recordação de família.

O aspecto importante é que temos uma abundância de memórias sobre 1863 e os anos seguintes, seja nas pequenas histórias da minha família ou no tesouro dos arquivos Bahá’ís. Estes incluem textos escritos pelo próprio Bahá’u’lláh, únicos em todas as grandes religiões mundiais.

Na minha perspectiva, considero emocionantes os testemunhos dos momentos de revelação de Bahá’u’lláh. Existem três tipos de testemunhos: o próprio Bahá’u’lláh, relatos de testemunhas oculares entre os primeiros Bahá’ís; e buscadores modernos como eu.

O Próprio Bahá’u’lláh

A revelação – a voz de Deus falando para, e através de, um mensageiro divino – é um pilar da religião. Abraão ouviu a voz de Deus ordenando-lhe que sacrificasse e poupasse o seu filho. Moisés comungou com a sarça ardente. Jesus Cristo teve o espírito de Deus pousado sobre ele na forma de uma pomba que falava com ele. Muhammad ouviu a voz do anjo Gabriel.

Da mesma forma, Bahá’u’lláh recebeu a sua revelação. Não apenas temos relatos de testemunhas oculares desses momentos de revelação, como temos também as descrições feitas pelo próprio Bahá’u’lláh. Esses momentos ocorreram no Siyah-Chal, o terrível “poço negro”, quando Bahá’u’lláh estava preso.


Durante os dias em que estive na prisão de Teerão… sentia como se algo fluísse desde o cimo da Minha cabeça até ao Meu peito, semelhante a uma poderosa torrente a precipitar-se sobre a terra do topo de uma alta montanha… Nesses momentos a Minha língua recitava aquilo que nenhum homem suportaria ouvir. (Epístola ao Filho do Lobo, ¶35)
Num outro relato, Bahá’u’lláh afirma:

Uma noite, num sonho, estas palavras excelsas fizeram-se ouvir: “Em verdade, far-Te-emos vitorioso por Ti próprio e pela Tua pena. Não Te lamentes por aquilo que Te sucedeu, nem tenhas medo, pois estás em segurança. (Epístola ao Filho do Lobo, ¶35)
A virgem celestial visitou Bahá’u’lláh no meio daquele desespero:

Enquanto submerso em aflições, ouvi a mais maravilhosa, a mais doce voz, chamando acima da Minha cabeça. Ao virar a Minha face, vi uma Virgem – a personificação da lembrança do nome do Meu Senhor – suspensa no ar perante Mim… Apontando com o dedo para a Minha cabeça, dirigiu-se a todos os que estão no céu e todos os que estão na terra, dizendo: Por Deus! Este é o mais amado dos mundos, mas ainda não o compreendeis! Esta é a Beleza de Deus entre vós, e o poder da Sua soberania entre vós, se apenas o entendessem. Este é o Mistério de Deus e o Seu Tesouro, a Causa de Deus e a Sua glória para todos os que estão nos reinos da Revelação e da criação, se sois dos que percebem… (Súriy-i-Haykal, ¶6-7)

Testemunhas Oculares

Imaginem se tivéssemos relatos das testemunhas oculares que viram os mensageiros divinos a receberem a Palavra Sagrada. Isto existe na Fé Bahá’í. Mirza Aqa Jan, que mais tarde se tornou o escriba de Bahá’u’lláh, descreveu uma experiência ocorrida em Karbila, Iraque, quando Bahá’u’lláh recitava a palavra revelada e caminhava no terraço de uma casa:


Julgo que, a cada passo que Ele dava e a cada palavra que Ele proferia, milhares de oceanos de luz surgiam diante do meu rosto, e milhares de mundos de esplendor incomparável eram revelados aos meus olhos, e milhares de sóis brilhavam com a sua luz sobre mim!… Cada vez que Ele se aproximava para mim Ele… dizia: “… Esta Causa certamente tornar-se-á manifesta…” (Shoghi Effendi, God Passes By, p. 116)
(…)

Mirza Haydar Ali, um dos mais proeminente entre os primeiros Bahá’ís, recordou:


Os versículos de Deus iam sendo revelados e as palavras fluíam como uma chuva abundante. Parecia que a porta, a parede, o tapete, o tecto, o chão e o ar estavam todos perfumados e iluminados… A que mundos fui transportado e em que estado me encontrava, ninguém que não tenha experimentado tal coisa jamais poderá saber. (The Revelation of Baha’u’llah, vol. 1, p. 29.)


Tarazu’llah Samandari
(1875-1968), outro proeminente Bahá’í descreveu como essas palavras eram escritas:


A Palavra Sagrada, revelada do céu da Vontade do Todo-Misericordioso, primeiro desce sobre o coração puro e radiante do Manifestante de Deus e depois é proferida por Ele… Tive o enorme privilégio de estar presente em duas ocasiões em que as Epístolas estavam a ser reveladas. As palavras sagradas fluíam dos Seus lábios enquanto Ele andava de um lado para o outro na sala, e o Seu amanuense [escriba] as registava… (The Revelation of Baha’u’llah, vol. 1, p. 36-37)

Pesquisadores Modernos

Outro conceito impressionante da Fé Bahá’í para mim foi o princípio da investigação independente da verdade religiosa, seja em relação à revelação Bahá’í ou a qualquer outra crença. Os ensinamentos Bahá’ís dizem que ninguém pode ditar a nossa própria espiritualidade, e todos têm a capacidade de ler a palavra divina directamente. Bahá’u’lláh diz: “Pois a fé de nenhum homem pode ser condicionada por ninguém excepto por ele próprio.” (Gleanings from the Writings of Baha’u’llah, LXXV)

No entanto, aprendi que abraçar a Fé Bahá’í é apenas um passo na nossa busca e desenvolvimento contínuos. A Fé encoraja os Bahá’ís a alimentar constantemente o seu crescimento espiritual e a ler, de manhã e à noite, os textos sagrados, revelados pelo luminar divino.

Portanto, qualquer que seja a etapa da sua busca – seja um crente nascido numa família Bahá’í de longa data, seja alguém que acabou de descobrir os ensinamentos de Bahá’u’lláh, ou simplesmente alguém que pretende explorar as perspectivas Bahá’ís para enriquecer as suas crenças numa outra tradição – você também é uma testemunha ocular da revelação.


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Texto original: Eyewitnesses to Revelation (www.bahaiteachings.org)

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Peter C. Lyon é um especialista em comunicações, residente em Washington, DC. É graduado em História e Espanhol pela Universidade do Texas. É escritor e leitor ávido de livros de história. Aceitou a Fé Bahá’í em 2001.


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